sábado, 13 de fevereiro de 2010

Entre Gildo de Freitas e Teixeirinha!

Dois caudilhos!
Lenonel Brizola e Gildo de Freitas!

Que linda foto!





Navegando pela internet, me deparei com um Blog do Gildo de Freitas. Respeito todas opções e gostos pela música gaúcha, mas me identifico muito com a simplicidade das letras de Gildo de Freitas. Não era gavola! Sua vida era simples como todas as suas letras!
Gostaria que lessem este texto que retiro com os devidos créditos do site: http://gildodefreitas.blogspot.com. Texto muito interessante! Leiam!

Compadre?

Em 1982, Gildo de Freitas no dia 04 de dezembro falecia em casa, dando um ponto final na conturbada relação entre os dois maiores nomes da música do Rio Grande do Sul. Mas nem mesmo a morte do Gildo não determinou o fim das polemicas.

Depois da morte do Gildo, Teixeirinha compôs e gravou “Compadre Gildo” onde relata sua versão sobre sua relação com o Gildo, entretanto essa música não consta em nenhum dos 5 Lps que Teixeirinha gravou depois da morte do Gildo mostrando um certo desdém comercial em relação a essa música. A seguir fiquem com a letra.

Compadre Gildo

Compadre Gildo de Freitas

Encerraste a carreira

Acabou a nossa guerra

Que era pura brincadeira

Agora estás lá no céu

Junto a nossa padroeira

No jardim da santidade

Aceite toda a saudade

Do teu compadre Teixeira

Pediste a terra pro corpo

Antes da extrema unção

Também comungo contigo

Quando eu morrer quero o chão

Mas quero é falar de ti

Na minha composição

Gildo eu digo com certeza

Mais um selo de tristeza

Que gruda em meu coração

Compadre Gildo de Freitas

Ouça bem o Teixeirinha

Está te mandando um beijo

A tua esposa Carminha

O Jorge , o Zeca e o Paulo

O Geneco e a Neusinha

Teus cinco filhos e netos

Os donos dos teus afetos

Também da saudade minha


Na estância grande do céu

Onde te encontras agora

Junto aqueles trovadores

Que a tempo já são outrora

Vão fazer versos contigo

Prá cristo e nossa senhora

O Cardoso na sanfona

O Tereco se apaixona

Compadre gildo de freitas

O rio grande está chorando

Sentindo a falta de ti

E o povo se lamentando

Não vão ouvir mais nós dois

Em versos se debicando

Eram duelos de idéias

Prá divertir as platéias

E nós como irmãos se dando

Foi grande a nossa amizade

E disso nunca eu esqueço

Sempre nos queremos bem

E querer bem não tem preço

Mas tu partiste com deus

Mudaste de endereço

Com cristo tu te refez

Quando chegar minha vez

Compadre gildo apareço.

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Destaquei “eram duelos de idéias” pois isso era um dos fatores das brigas, Gildo de Freitas e Teixeirinha tinha uma visão da vida e de suas carreiras completamente diferentes.

O Rei dos Trovadores desde a década de 40 até sua morte foi um amador, fazia mais pela paixão do que pelo dinheiro e sempre que foi possível ajudou outros músicos cedendo suas composições. Nunca foi ambicioso, jamais colocou o dinheiro ou a carreira acima da família e amigos.

Já o Rei do Disco era um profissional, aficionado pelo sucesso e que tinha um enorme talento para música e tino para os negócios, construiu graças a seu profissionalismo um bom patrimônio.

Gildo mesmo com o sucesso sempre viveu de forma humilde e Teixeirinha como fruto do seu talento fez do sucesso fortuna.


Um episódio, que retrata o lado “amador” do Gildo foi quando ele e alguns músicos estavam em uma Kombi na BR 116 indo a a Pelotas onde tinham hora marcada para uma apresentação. Como haviam atrasado a saída de Porto Alegre eles já chegariam a Rio Grande na hora do show. Mas vendo na estrada uma Pitangueira repleta de frutos, Gildo de Freitas não teve duvidas mandou o motorista parar a Kombi para ele colher e comer as pitangas. Todos no veiculo tentaram dissuadir o Gildo já que com a parada eles iriam atrasar e perder o show. Mas Gildo já saltando da Kombi rumo a pitangueira disse a todos que shows e apresentações ele podem ter qualquer dia, mas pitanga madura e no ponto de colher é só uma vez ao ano.

Um ponto a se destacar é que a rivalidade não se devia a um invadir o espaço do outro ou seja o sucesso de um não era o fracasso do outro, eles ocupavam espaços diferentes e cada um tinha seu publico cativo. Gildo de Freitas nunca foi uma ameaça em termos de vendas de discos ao Teixeirinha, na verdade o único que chegou perto dos números do Rei do Disco foi José Mendes. Pode ser que as tais brigas como estratégia de marketing tenha obtido sucesso, criando até Gildenses e Teixeirinhenses(desculpe esse meu momento de sofismo) uma espécie de torcida para cada um, mas isso foi de fato explorado amistosamente somente no inicio da carreira do Teixeirinha.

Mas alguns leitores devem estar perguntando sobre o ponto de interrogação no titulo, afinal Teixeirinha até escreveu uma música em homenagem ao Gildo de Freitas.

Em toda polêmica temos que ouvir a outra versão. Apesar do suposto afeto ao Gildo e sua família, Teixeirinha, ou melhor, Vitor Mateus Teixeira não foi ao enterro do Gildo de Freitas tão pouco ao velório, um gesto de ingratidão à pessoa que o mais o ajudou quando Teixeirinha era um ilustre desconhecido e iniciante perambulando em busca de espaço na radios Farroupilha e Gaúcha, cujo espaço Gildo de Freitas já havia conquistado. Ainda nos anos 50, Gildo de Freitas deixou sua esposa Carminha e seus filhos em Porto Alegre para viajar com Teixeirinha pelo Rio Grande do Sul, para que com as apresentações, Teixeirinha juntasse dinheiro suficiente para se casar com a Zoraida que foi única mulher com quem Teixeirinha se casou. Carminha relata em seu livro que passou muitas necessidades com seus filhos já que muitas vezes não tinha como se manter.


Na época Teixeirinha alegou que não foi ao velório e ao enterro, pois temia ser mal recebido, entretanto sabemos que a morte do Gildo foi de tal comoção que a aparição do Teixeirinha seria a prova maior que de fato eles eram amigos e companheiros e Teixeirinha solidário a família e amigos do Gildo, mas Teixeirinha preferiu se esconder e fomentar ainda mais as fofocas e gerar esse ressentimento por parte da família do Gildo de Freitas. Sem duvida mais uma atitude equivocada do Teixeirinha. Mais uma vez os negócios em primeiro lugar.

Adão José de Souza mais conhecido como Formiguinha era um grande amigo do Gildo de Freitas e de sua família. Cantor, compositor e trovador foi parceiro muitas vezes do Gildo nas trovas, apresentações, shows e principalmente na Radio Metrópole. Pois Formiguinha gravou uma música em resposta para “Compadre Gildo” do Teixeirinha.


Formiguinha até sua morte em 1990 foi fiel a memória do Gildo e sempre se manteve-se próximo a família do Gildo de Freitas.


Fiquem com a letra:

Pedido de Amigo


Peço desculpa pra o povo

Eu não escondo segredo

De um artista que eu conheço

Que é metido a bicharedo

Fala no disco e no radio

Derruba qualquer rochedo

É cantador criativo

Mas quando o gildo era vivo

Tremia a perna de medo

Fizeste letras para o Gildo

Resposta tu recebeu

Criticavas tanto ele

Agora tu te esqueceu

Reza no disco e no radio

Depois que o homem morreu

Que tamanha falsidade

Tais faltando com a verdade

Ele não era amigo teu

E agora vem com desculpas

Que eras amigo do homem

Fez uma letra e gravou

Só para aproveitar o nome

Mas não te esqueça que um dia

A tua alma se some

Se acaba a vida granfina

Teu orgulho se termina

E a matéria a terra come

E as letras que fez pra o Gildo

Deixou o povo revoltado

Fizeste a adaga de ése

E o cachorro recalcado

Um tal de facão três listas

E até um relho trançado

Jogava as pedras no homem

E agora aproveita o nome

Depois do corpo enterrado

O povo todo compreende

Que tamanha falsidade

Nem no enterro tu foi

Veja que barbaridade

E hoje tu diz meu compadre

To morrendo de saudade

Mas a família dos Freitas

Mandou eu te dar a receita

Provando a minha amizade

Enquanto o Gildo foi vivo

Deixaste ele num canto

Tu nunca ajudou ninguém

E o Gildo ajudou tantos

E hoje perante o povo

Estais querendo bancar o santo

Só tens dinheiro e cartaz

O que tu fez não se faz

Juro pro povo eu não garanto

Tu és artista ricaço

Tua vida é um paraíso

Mas és ruim barbaridade

Nada de ti eu preciso

Só quero te dar um conselho

Que barbado eu não aliso

O Gildo foi tão fiel

E tu és cobra cascavel

Que vive batendo guizo

Adeus o Gildo de Freitas

Eu atendi o teu pedido

Eu sempre fui teu amigo

Sincero, honesto e querido

Eu só estou dando a resposta

Pra um tipo prevalecido

Desculpe o seu Formiguinha

E o resto pergunte a Carminha

Viúva do falecido


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No Disco Teixeirinha não respondeu essa música e nunca mais tocou no assunto Gildo de Freitas. Em breve entrevista ao jornal Zero Hora no ano de 1982 Teixeirinha ainda tentou explicar um pouco sobre sua relação com o Gildo, afirmando que era amigos e que sempre olhavam um para o outro. Mas sabemos que isso não era verdade, já que nas inúmeras internações em hospitais do Gildo de Freitas, não há relatos de que alguma vez Teixeirinha tenha ido visitá-lo.

Nos anos de 1983 e 1984 Teixeirinha começava a enfrentar uma serie de problemas, após Mary Terezinha abandoná-lo para se unir ao mentalista Ivan trilha e em 1985 começava a sofrer também com problemas de saúde e por ironia do destino num mesmo 4 de dezembro, Teixeirinha falecia no hospital moinhos de vento em Porto Alegre. Definitivamente a briga entre eles estava encerrada, mas entre seus fãs, ela continua até hoje.

No Rio Grande do Sul, por tradição em tudo ha uma dicotomia, foi assim na política (que perdura até os dias de hoje), no futebol e agora na música no que se trata a relação entre Gildo de Freitas e Teixeirinha. Existe realmente entre os fãs mais aficionados uma defesa apaixonada de seu ídolo que leva ele a atacar o outro. Assim é entre fãs de Gildo e Teixeirinha. Conheço fãs do Gildo de Freitas que destratam Teixeirinha e do mesmo modo fãs do Teixeirinha que destratam a memória do Gildo de Freitas. Mas justiça seja feita a aqueles que admiram os dois e felizmente são a maioria.

Desta forma encerro a serie de artigos, efetivamente eles não são definitivos, são apenas um ponto de vista sobre a relação Gildo de Freitas e Teixeirinha, eventualmente posso estar equivocado, mas tudo o que escrevi fora inspirado em recortes de jornais, livros e especialmente testemunhos de quem viveu e conviveu tanto com Gildo de Freitas e Teixeirinha.