segunda-feira, 5 de outubro de 2009

BURACOS!


Certo dia desses, estava escutando uma rádio local, entrevistando o Secretário de Obras do município. BURACOS! Asfalto esburacado! Herança maldita! Então o entrevistador foi direto ao perguntar ao distinto Secretário por que a prefeitura não tem a sua própria usina de asfalto?! A resposta veio no argumento de que é muito dispendiosa uma usina de asfalto! Então me indago, “Dispendiosa”?!
Minha infância foi na antiga pedreira da Prefeitura localizada na Av. Borges de Medeiros aqui em Santa Rosa - RS. Final dos anos 70, toda a manhã era acordado pela barulheira das máquinas (vibra-dores) que fabricavam tubos de concreto. Mas nas segundas feiras, algo era diferente! Havia uma paz no início do expediente! Levantei, o olhei ao pátio do parque de máquinas que era junto à pedreira. Lá estavam todos os funcionários sentados ao chão a escutar uma pessoa que estava sentada sob uma das latas usadas para colocar a brita nas betoneiras. Fiquei admirado e perguntei a minha mãe quem era o cara que falava ao pessoal da prefeitura. Minha mãe me falou: “É o prefeito!”.
Prefeito?! Ali? Pensei que devia ser alguma coisa importante! Com certeza era importante, mas aquilo se tornou rotina! Toda a segunda feira o prefeito aparecia e sentava junto ao pessoal para direcionar as ações do pessoal da Secretaria de Obras para aquela semana. Lembro-me bem! Esse prefeito resolveu duplicar a capacidade de captação de água da usina de bombeamento de água localizada no Rio Santo Cristo! Então os contrários políticos iam às rádios dizerem “Isto é uma obra faraônica! Pra que gastar tanto?! Vai arrebentar com todo o asfalto até o centro da cidade! Pra que isso?!”
A obra foi feita. E a movimentação na pedreira tornou-se acima do normal! Na parte mais baixa da pedreira encontrava-se a usina de asfalto! Constituída basicamente de um tonel enorme cheio de “pixe” derivado do petróleo, uma betoneira gigante onde era colocada a pedra brita e acrescentava-se o “pixe” quente. Despejava-se no caminhão e esse seguia para a cidade, onde era espalhado por máquinas niveladoras e depois passado o rolo para compactar. Pronto! Estava pronto o asfalto! Eu vi tudo isso, sabia como era feito. E o prefeito calou muita gente com as suas obras! Nos dias de hoje, várias cidades da região em épocas de seca, passam a racionar água. Santa Rosa nunca teve esse problema.
E o prefeito fez história! Está marcado como uma das melhores administrações que Santa Rosa já teve! Estou falando de Antônio Carlos Borges! Grande político, exímio orador! Certo dia desses, estava em Porto Alegre e conversava com o Sr Ney Ortiz Borges, ex-deputado estadual e federal, cassado nos anos de ditadura. Ele me disse a seguinte frase que marcou:
- Omar, vou te falar uma coisa a respeito do Antônio Carlos Borges. Quando eu estava na Assembléia do estado, poucos acompanhavam o discurso dos companheiros. Mas quando o Antônio Carlos Borges, que era de um partido diferente do meu, ia ao palanque, eu sentava assim como vários colegas e apreciávamos o Deputado Borges falar. Era um espetáculo a parte! ...
“Dispendiosa”?! A usina de asfalto é dispendiosa! Sabem por quê?! Por que é mais fácil contratar empresas dessa área que além de superfaturar, contribuem aos partidos nas épocas de campanha! Isso é o que movimenta financeiramente os partidos! Nada de se fazer, e sim, licitar! Faz parte das licitações uma porcentagem destinada a este tipo de negócio! Que pena! Usina de asfalto é dispendiosa! Buracos! Em todas as ruas, nas esferas da política, nas licitações e nas palavras mal ditas!